sábado, 29 de dezembro de 2007


O percussionista Alex Holanda é provavelmente o mais versátil instrumentista que eu conheci. Qualquer objeto, por mais imprestável que seja, vira na mão dele um instrumento musical. Pode ser uma quartinha, um bule, uma lasca de madeira, enfim, de tudo ele tira um senhor som. Ao Alex eu devo a primeira gravação de música minha, ´Ocean Avenue´, inserta no CD ´Almost Midnight´, do Midnight Quartet. Mostrei a ele as três partes que eu havia composto e ele gritou de lá: ´Está pronta. Posso gravar´? Claro que eu concordei. Marcamos encontro para a semana no escritório do maestro Toni Maranhão, que cifraria a melodia. Dessa gravação participaram também o próprio Toni Maranhão e o baixista Jerônimo Neto, além do próprio Alex.

Todos os meus colegas de profissão são íntegros (desculpem a falta de modéstia, mas os que não são íntegros, não os tenho como colegas). Gervásio de Paula é, seguramente, um dos que possuem maior grandeza interior. Pensamento constante nos menos afortunados, preocupação permanente com o semelhante, incapaz de prejudicar alguém. Desprendimento que não se encontra facilmente. Certa vez, necessitando tomar um medicamento caríssimo cuja fila para sua obtenção nos órgãos oficiais era quilométrica, três amigos conseguiram-lhe algumas doses. E, mesmo diante da urgência, sob pena mínima de ficar sem voz e máxima de morrer, Gervásio agradeceu e recusou, justificando que não seria correto passar na frente dos outros só pelo fato de ter amigos influentes. Nas relações de trabalho, ele sempre me ajudou muito e até já cobriu minhas férias, não bastasse termos vivido juntos a prazerosa e inesquecível aventura do ´Pixote´. De resto, um amigo e tanto.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007


30 Anos. Barcelona, capital da Catalunha, 1986. O pintor uruguaio Pablo Manyè convidou-nos a visitar uma Plaza de Toros. Sabia que não iria gostar, porém seria por demais indelicado recusar. A tourada não é propriamente o forte daquela região. Em outras partes do território espanhol ela é, digamos, mais forte e sangrenta. Apesar disso, detestei. Primeiramente porque acho uma covardia com o touro, bastante ferido por lanças de cavaleiros antes da entrada do astro (toureiro) na arena. Depois, ainda que não fosse uma luta desigual, o touro não foi consultado, logo, não está ali por vontade própria. Confesso que por vezes tive vontade de sair, mas não quis fazer desfeita com quem tão generosamente nos ciceroneava. Alguns dias depois, nosso grupo se desfez, um para cada lado. Fiquei mais um tempinho, desta vez em Mataró, nas cercanias de Barcelona, hóspede de Pablo, amizade preciosa até hoje cultivada apesar da distância física.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007


Quase tudo eu devo a alguém. O senso de humor, imprescindível principalmente nos momentos mais graves, eu aprendi com os criadores da mais inteligente revista em quadrinhos que conheci, ´Asterix´. Estou me referindo aos gauleses René Goscinni e Alberto Uderzo. Mas isso não é tudo. A visão crítica é ingrediente de inegável importância. Na leitura, me apurei no ´Pasquim´, já a partir da metade da primeira fase. Foi lá que aprendi a admirar Ziraldo, Ivan Lessa, Fausto Wolf, Jaguar e tantas outras figuras de proa que fazia jornalismo alternativo, do qual anos mais tarde eu faria parte com o ´Pixote´. Entanto, na convivência, muito aprendi com o meu saudoso amigo Fábio Ginelli, engenheiro-eletricista, de bom gosto indiscutível e apuradíssimo discernimento crítico. Fábio sabia como poucos dominar o medo, transformando-o em coragem mais do que lúcida e sensata. Um cara do bem.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

O carro de todos os anos


Tive momentos de criação publicitária. A que eu mais gostei foi para o melhor carro brasileiro da época, o Opala, primeiro de passeio fabricado pela General Motors, que circulou de 1968 até 1992. Em 1984, bolei uma campanha cujo mote era ´O Carro do Ano´, escolha anual das revistas especializadas. Consistia em mostrar, em perfeito estado de convervação, os Opalas de cada ano: 1968, 1969, 1970, 1971 e assim por diante... E apenas uma frase: Opala - O Carro de Todos os Anos. A campanha não vingou, nem mesmo chegou a ser oferecida. Mas eu curti muito tê-la bolado.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007


Na época em que fiz assessoria para o restaurante Casa Nostra, o então prefeito de Fortaleza Ciro Gomes era freqüentador assíduo. Certo dia, em meio a especulações sobre sua saída do cargo para disputar o governo do Estado, perguntei-lhe se ia deixar a Prefeitura. Eis a resposta: ´Não, porque o meu compromisso é com a população de Fortaleza que me elegeu´. Insisti: ´E se o senhor mudar de idéia´? E ele: ´Se eu mudar de idéia prometo que você será o primeiro a saber´. Pouco tempo depois, Ciro anunciava a saída para concorrer ao governo, cargo sonhado por Sérgio Machado mas nunca prometido por Tasso Jereissati. Na coluna ´É...´, escrevi: ´Ciro deixou a Prefeitura e eu não fui o primeiro a saber como ele prometera. Em compensação, também não fui o último. O último foi o Sérgio Machado´.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Inafiançável


No programa Altas Horas, de Serginho Groismann, na Globo, presenças de Elba Ramalho, Lulu Santos e Cláudia Leite, foi mostrado trecho de uma apresentação em que a estrela do Babado Novo assassinava a música "Você", de Tim Maia. Não é prudente para quase ninguém se aventurar em músicas que receberam a interpretação de Tim, principalmente cantores cujos dotes passam bem longe dos do inesquecível artista.

É muito importante até hoje a figura do jornalista-diagramador. Avaliem há dez, 20 ou 30 anos. É o diagramador que dá a feição gráfica às matérias e às colunas, além de calcular os espaços. O meu primeiro foi Vicente Paulo Mota, hoje vitorioso empresário do setor gráfico, a quem já me referi nestes ´30´. Vieram muitos outros: Manoel Martins, publicitário e fazendeiro, Glauco Bezerra (um dos mais perfeitos traços que conheci), Raimundo Filho, Chico Macedo, Luís William e mais recentemente kelma Coutinho, Adriana Rodrigues, Chagas Neto, Wilton Bezerra, Amauri Taumaturgo e um ou outro que a memória possa ter me aprontado, mas que nada me impede de lembrar mais adiante.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Macaca de auditório

Este blog em fase experimental terá várias seções. E aí está uma delas, que se pretende platéia. Lily Carvalho vê e escuta quase tudo. E dirá.
(A logo é uma bolação do consagrado diretor de arte Kleyton Mourão)



Sempre fui noveleira. A novela me ajuda a relaxar entre um trabalho e outro. Só que de uns anos para cá não está mais dando para assistir. São tramas repetitivas, sem criatividade, com situações que passam longe da lógica. Autêntica brincadeira sem futuro. Além disso, ninguém é considerado criminoso nas novelas. No final, quem comete atrocidades quando muito é considerado louco e vai para o hospital. Ah, quanta saudade sinto de O Bem Amado. A Globo bem que poderia relançá-la em DVD.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007


Fui, sim, parte de motivo de estudo de uma monografia de conclusão de curso (Comunicação Social, da UFC). É da jornalista (e hoje professora da Unifor) Adriana Santiago, intitulada ´Igreja Universal do Reino de Deus x Diário do Nordeste: A Cobertura Jornalística e a Contribuição do Colunismo´. No Capítulo III, 1. ´Artilharia Pesada da Coluna É...´ 1. 1. ´A coluna não se limitou a opinar´. Adriana Santiago me presenteou com um exemplar de seu trabalho com generosa dedicatória: ´Ao melhor objeto que eu poderia ter encontrado. Pela criatividade, desprendimento e coragem´.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Derrocada de sucesso


É tamanha a força do Corinthians que o seu rebaixamento para a Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro foi notícia quase na mesma proporção do título (de bicampeão brasileiro e não penta, como insistem alguns setores passionais ou desinformados da imprensa) conquistado pelo São Paulo, na verdade cinco vezes campeão, mas apenas uma seguida da outra. E chegou muito perto em termos de espaços na mídia.

Geralmente, o torcedor se preocupa apenas em saber se está sendo formado um time competitivo, apto a ganhar campeonatos. Pouco se toca com a qualidade moral dos dirigentes. E o que já aconteceu com muitos clubes, chegou ao Corinthians, com a formação de uma quadrilha internacional, com origem inclusive na máfia russa. Aos torcedores, e não apenas aos Conselhos Fiscais ou Deliberativos, compete fiscalizar a ação dos dirigentes. É a tal história: se o boi conhecesse o seu poderio físico, não haveria cerca ou ramalho que o aprisionasse.

O Corinthians necessita de uma ampla reformulação, não apenas dentro de campo ou na comissão técnica, mas nos altos escalões. Ele, a maioria dos clubes e, principalmente, a CBF (também conhecida como Central Brasileira de Falcatruas) e as federações.