terça-feira, 10 de julho de 2007

Carta ao pai

Pai:

Está sendo muito difícil morar aqui, ter que conviver com todo esse preconceito, com essa hipocrisia e principalmente ignorância.
É complicado estar perto de uma juventude tão influenciada pela televisão, que contribui para a ignorância e torna alienada a maioria das pessoas.
Ontem não foi a primeira nem a última vez que fui ofendida aqui, tive que ouvir coisas como "é uma vergonha ser nordestino". O pior de tudo é ter que ouvir isso de uma pessoa que não sabe nada do mundo, não conhece a história do seu País e nunca nem mesmo ouviu falar de "movimentos emancipacionistas". Ou seja, sou obrigada a ouvir ofensas de quem nem mesmo sabe porque está ofendendo. Como posso compreender isso?
Queria muito estar cercada de pessoas fundamentadas, pessoaas que não se prendem a preconceitos e nem a coisas tão fúteis, mas eu queria tanta coisa,né?
Uma vez você me disse que eu não posso mudar o mundo. Mas se eu pudesse, pai, se eu pudesse mudar tudo isso, com certeza eu o faria.
Antigamente, na época do Primeiro Reinado, o Brasil estava repleto de revoltas, devido a insatisfações pós-independência. Em todos os cantos havia pessoas reivindicando mudanças. Hoje em dia isso não ocorre, ninguém sabe o que está acontecendo, as pessoas são despolitizadas, conformadas...
É facil "governar" assim. Ninguém conhece, niguém reclama. Os poderosos contam com uma maioria ignorante e eu queria muito mudar isso.
Eu vou tentar, pai, lutar contra tudo isso, porque eu não posso ser feliz assim, não como a maioria, minha consciência pesa e eu não aguento tanto peso.

Lina Cavalcante, 16, em 09.10.1997

Um comentário:

Lina disse...

Não saberia contar quantas cartas ao pai já foram feitas por mim. Foi realmente muito preconceito que passei por aqui. Cabeça chata. Mas hoje sabe qual minha resposta? Eu sambo com uma lata na cabeça. Fiz da dor, samba. E ainda danço. Te amo
Lina