quarta-feira, 31 de outubro de 2007

A gente se vê...


Não faltou quem me perguntasse se imitei a TV Globo ao encerrar o Teveneno dizendo: ´a gente se vê por aí´. Quero deixar claro que sigo com o meu feijão com arroz, feliz da vida, mas nunca imito coisa alguma nem ninguém. O que faço de positivo ou negativo é por mim mesmo. Também não quero ser pretensioso e acusar a grande rede de TV de haver me imitado. Lembro, apenas, que digo ´a gente se vê´ por aí desde o início do programa, em agosto de 1993, na Manchete. E que a globo passou a adotar o jargão ´a gente se vê por aqui´ na mensagem de final de ano, em 2000.

Quando eu ainda não tinha o registro de jornalista na DRT fui, a exemplo de outros colegas, muito perseguido pelo Sindicato, atitude que não censuro, a entidade estava no papel dela. Alguns anos mais adiante, já devidamente provisionado, recebi honroso - embora até certo ponto atemorizante - convite para participar de um programa que a professora Adísia Sá fazia, comecinho do dia, na AM do Povo: ´Olho no Olho´. Acordei às cinco da manhã e procurei nem pensar que dentro de duas horas eu estaria diante da grande mestra de gerações. No estúdio, a presença do jornalista Nonato Albuquerque - que a sucedia no horário -, como espectador, regozijo meu. Adísia foi (é) um doce, mas perguntou tudo. E no finalzinho disse: ´Como sindicalista persegui você pela falta do registro profissional, imaginando que você era mais um daqueles que ingressam no jornalismo para tirar proveitos pessoais. Hoje me penitencio, porque sei que estou diante de um jornalista de verdade´. Adísia não me devia essa explicação que tanto me felicitou. E ainda saí com um mimo: a cópia do programa em uma fita cassete.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

30 Anos. De profissionais indispensáveis.


Teria sido complicado trabalhar como jornalista e ao mesmo tempo criar duas filhas pequenas se não contasse com ajuda. A mais valiosa veio de uma criatura maravilhosa chamada Maria Gleucimeires do Amaral, filha de Itarema e indicada a mim pela prestativa Zilda, funcionária de minha amiga Maninha Morais, ex-Coelce e Theatro José de Alencar e hoje tocando o Centro Dragão do Mar. Greuça, como a chamamos, morou lá em casa. Cuidava das meninas com um carinho impressionante e ainda arrumava o apartamento e providenciava as refeições. Permaneceu muitos anos (não sou nada competente em matéria de datas precisas) conosco e só saiu porque tinha uma missão a cumprir em sua cidade. Tenho por ela uma enorme gratidão.

Barrados no baile


Barcelona, 1986. Estávamos eu, meu ´patrocinador´ e irmão Lúcio Brasileiro, Edilmar e Lucila Norões, Luís e Lorena Frota, e Tarcizo Azevedo e Inês Romano, na época casados. Saímos noite adentro e deparamos com uma boate com cara de pouco convencional. Tentamos entrar mas não havia venda de ingressos. O jeito foi argumentar, que éramos do Brasil e queríamos conhecer a boate. Todo o falatório foi em vão, nenhuma carteira sensibilizou o sisudo porteiro. De repente, aparece atrás de nós um punk que mais parecia um pavão. Quando o avistou, o chefe da portaria praticamente nos empurrou para que abríssemos passagem. E o punk entrou sem nenhum problema. Lúcio era o que mais ria, adora Barcelona porque lá ele não é nada além de uma pessoa comum ou até, como foi neste caso, menos que isso. E logo propôs irmos a um bar bebericarmos à frustração.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Clarear

Clarear, doce clarear/Onde muitas noites iluminaram as mentes/Com a parte visivel da lua/Aquecendo o frio nunca adormecedor/Até o sol curioso chegar.

Quem dera o abrigo
amarelar de novo/Com o gemido
suave dos corpos/E a groselha
cheirosa do gozo/No vai e vem
das musas /Amadas,abençoadas e sacramentadas/ Pela arenosa aurora da maresia.

Calor de bebida/Cheiro de peixe/
Fome de amor/Arrepiar de brisa/Num mar que se faz cardiotônico/Ao nos estimular à entrada/ No santuário do ventre.

Em tudo isso Clarear nos conduziu/Ilusoriamente alegre/
E mais moços/Enquanto a cruel
realidade/ Não nos fez o saudoso/
retrato de Dorian Gray.

Uma das primeiras barracas dia e noite da parte conhecida como nova da Praia do Futuro foi a Clarear, minha e do meu irmão Roberto. Amarelinha, entre o Karlux e o mar, quase em linha reta com o hotel Toaçu, que ainda não existia. Ali circulavam figuras do jornalismo e das artes - plásticas, cênicas e musicais. Lembro-me por agora de Ronaldo Salgado, Emília Augusta, Gervásio de Paula, Chico Pio, Manassés, Dedé de Castro, Ricardo Guilherme e Rogaciano Leite Filho, que merecerá um capítulo especial nesses singelos relatos de três décadas. Voltando à Clarear, lembro-me de que certa vez faltou no comércio a carne de caranguejo. Roberto e eu lançamos o casquinho de arraia que, bicudo na modéstia, foi um tremendo sucesso. Durei pouco no negócio, não mais do que três meses. Meu irmão suportou mais tempo.

A poesia é presente do grande amigo, grande ser humano e frequentador da Clarear, Gervásio de Paula.


sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Velho Briza



Um dos momentos de grande emoção de minha carreira foi a entrevista com Leonel Brizola no programa Paulo Oliveira, cedinho da manhã, na Verdinha. Comecei pedindo que ele explicasse a relação com Fernando Collor, que maldosamente tentaram conduzir para o lado político-fisiológico, mas que foi somente administrativa. Nenhuma indicação para cargos federais. Desconheço alguém que tenha combatido mais intensamente Collor do que Brizola, mas, desgraceira feita, competia a um governador responsável relacionar-se administrativamente com o presidente da República. Para vocês terem uma idéia, ouvi gente que jamais votou em Brizola, e em Collor, sim, dizer o seguinte: ´Nunca mais voto no Brizola, porque ele fez acordo com Fernando Collor´. Quanta hipocrisia. Retomarei. Na foto: eu, Brizola e minha filha Marcela.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

De música e amigos


Era década de 90 e Fortaleza recebia o grande Ray Charles em apresentação única no Obá-Obá, onde hoje funciona a Siará Hall, igualmente civilizada. Assisti com alentado grupo, platéia atenta, como advinhando que seria a oportunidade única de ver o grande astro da música soul na cidade. Na abertura, Manassés, notável violeiro. Jamais esquecerei a figura de Ray e seus músicos se deliciando com o dedilhar do maranguapense em ´Bolero de Ravel´. Bastante tempo à frente, Manassés tocaria de forma magistral a música ´Nós Um´, minha e de Márcia Thé, inscrita em um festival e posteriormente gravada e dando nome ao disco da ótima cantora Teti, mas aí são outras histórias.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

De bens preciosos


A profissão me ensejou grandes (qualidade e não quantidade) amizades. De momento cito o empresário e pensador sobralense Luís Frota Carneiro, casado com uma mulher maravilhosa que é a gaúcha Lorena Bossardi, união que rendeu filhos de primeira linhagem. Luís tem uma virtude que raramente encontramos: pensa por conta própria e tira conclusões inteligentes qualquer que seja o tema. Para ele, a substituição no Pai Nosso da expressão ´perdoai as nossas dívidas assim como nós perdoamos os nossos devedores´ pela ´perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos os que nos têm ofendido´ foi obra de algum credor temendo calote. Extremamente solidário, Luís é capaz de advinhar até o que os amigos ainda vão desejar.
A seguir, série de anúncios feitos para divulgar a estréia do Teveneno na TV Diário. Quem aparece é: Ronaldo Salgado, Tom Cavalcante, Márcia Vidal e Dedé de Castro. Além de excelentes profissionais, são pessoas muito queridas.




De autor a personagem


Sim, fui citado inúmeras vezes pelos meus colegas. Regina Marshall chamou-me de inteligente, ela pode errar como todos nós, mas quando diz, está sentindo. Sônia Pinheiro, sempre generosa. Sebastião Nery fez uma coluna inteira inspirado em informação que dei sobre as crueldades cometidas por um ex-presidente do Banco do Nordeste cujo nome, em respeito a vocês, evito hoje em dia pronunciar. José Simão, da ´Folha de S. Paulo´, - grande figura - que eu saiba citou-me duas vezes. Por agora lembro apenas uma, quando morreu Mário Covas: ´Os tucanos enaltecem as qualidades morais do companheiro desaparecido. Lá de Fortaleza, Neno Cavalcante pergunta: ´Por que não seguem o exemplo´? Lúcio Brasileiro: ´Papeando na Volta da Jurema, Ivens Dias Branco, um amigo que eu tenho como irmão, e Neno, um irmão que tenho como amigo´.


Esta matéria foi veiculada em março de 1999 informando a estréia do Teveneno na TV Diário.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007


De música e amigos. Há algum tempo, Fagner me prometeu um violão. Como é muito apegado à sua coleção, até hoje não criou coragem de cumprir. E nem precisa, foi perdoado. Se não fosse por ele, talvez eu não tivesse sido apresentado a Patrícia Pillar, uma grandeza de simplicidade.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Do outro lado da janela


Na maioria das vezes a coluna é escrita na própria redação, mas também já foi concebida em outros lugares. No hotel do Rômulo Montenegro, grande figura, no Caça e Pesca, onde morei algum tempo, costumava redigi-la na piscina, para onde me dirigia todas as manhãs com a velha Remington, papel jornal, caneta e bloco com anotações. Tive também o privilégio de escrever em barraca de praia, um olho na máquina e outro no mar, ora verde, por vezes azul. Mas o local que me proporcionava melhor rendimento era no apartamento onde morava, na Praia do Futuro, mar igualmente à vista. Vários anos depois, fiz da sala de radiojornalismo (Verdinha) a minha redação, onde convivi com criaturas maravilhosas como Solon, Newton Sales, Silvinha, Evandro Nogueira, Magnólia, Cleílson...

Valeu a pena


A partir de 1984, casamento desfeito com Denise Xavier, grande amiga até hoje, no primeiro momento as filhas Lina, de dois anos e meio e Marcela, três e meio, ficaram mais comigo para que a mãe corresse atrás da profissão. Era raro o dia em que as meninas não passassem um período na redação, onde faziam as tarefas escolares em meio à confusão peculiar. Não podia dar outra: Lina formou-se em Jornalismo na Mackenzie (SP), trabalhou como repórter da editoria de Cultura da revista ´Época´ e hoje é freelance da revista TAM, enquanto busca o Mestrado em Letras. Marcela concluiu Publicidade e Propaganda na Unifor, pós-graduou-se em Marketing com ênfase em Serviços na Fundação Armando Alvarez Penteado, de São Paulo; especializou-se em Planejamento na Miami Ad School, conveniada no Brasil com a Escola Superior de Propaganda e Marketing e hoje atua no Departamento de Marketing do jornal Valor Econômico. Às duas eu devo, desde cedo, a tolerância e principalmente a compreensão de que o tipo de jornalismo que abracei traz inúmeras compensações, menos dinheiro.